Pesquisadores acreditam ter encontrado uma estratégia inovadora para combater doenças perigosas transmitidas por mosquitos, como dengue, febre amarela e zika: tornar os machos desses insetos incapazes de ouvir.
A incapacidade de ouvir, segundo o estudo, dificulta o acasalamento e reduz a população de mosquitos transmissores, já que os machos dependem do som para localizar fêmeas durante o voo.
Em um experimento conduzido pela equipe da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, os cientistas alteraram uma via genética fundamental para a audição dos machos, impedindo que eles ouvissem as batidas das asas das fêmeas.
Como resultado, mesmo depois de dias na mesma gaiola, esses machos mutantes não conseguiram acasalar com as fêmeas.
O experimento foi realizado com Aedes aegypti, espécie que infecta anualmente cerca de 400 milhões de pessoas no mundo.
Durante o estudo, os pesquisadores observaram cuidadosamente os hábitos de acasalamento aéreo desses insetos, que se encontram e acasalam enquanto voam.
Em geral, o ato dura alguns segundos, mas depende totalmente da capacidade auditiva dos machos para detectar as fêmeas a partir do som produzido pelo bater das asas.
Para cortar esse sentido, a equipe de pesquisa eliminou a função da proteína trpVa, essencial para o processo de audição dos mosquitos.
Nos mosquitos geneticamente modificados, os neurônios que detectam sons não responderam aos tons de voo ou batidas de asas das fêmeas, deixando os machos incapazes de seguir suas potenciais parceiras.
A diferença de comportamento entre os machos mutantes e os selvagens foi significativa.
Enquanto os machos não modificados copulavam rapidamente e fertilizavam quase todas as fêmeas na gaiola, os machos surdos falharam completamente em realizar o acasalamento.
Os resultados do estudo foram publicados no periódico PNAS e descritos pelos cientistas como um efeito “absoluto”, com eliminação total do acasalamento nos machos afetados.
Técnica pode ser arriscada e causar extinção de tipos de mosquitos
O Dr. Joerg Albert, especialista em comportamento de mosquitos da Universidade de Oldenburg, Alemanha, considera a técnica promissora, mas alerta que a manipulação da audição deve ser estudada com cautela.
Segundo ele, o estudo demonstra que a audição é essencial para a reprodução dos mosquitos, indicando que a interrupção desse sentido nos machos poderia levar à extinção de certas populações de mosquitos.
Além da manipulação genética para surdez, o Dr. Albert também mencionou outro método em estudo para controle de mosquitos: a liberação de machos estéreis em áreas com focos de doenças.
Essa técnica, assim como o uso de mosquitos geneticamente modificados, poderia ajudar a conter o crescimento das populações de Aedes aegypti em regiões afetadas por surtos.
Os mosquitos, apesar de serem vetores de várias doenças, desempenham um papel importante na cadeia alimentar, servindo como alimento para aves, peixes e outros animais.