Cientistas da Universidade de Münster, na Alemanha, descobriram como o veneno da viúva-negra, uma das aranhas mais temidas do mundo, age no sistema nervoso.
Utilizando microscopia crioeletrônica (cryo-EM) e simulações de dinâmica molecular (MD), os cientistas desvendaram o mecanismo por trás da toxina α-latrotoxina, uma das sete toxinas presentes no veneno da aranha, que é especialmente prejudicial para humanos.
A α-latrotoxina se destaca por atacar diretamente vertebrados, incluindo humanos, e tem como alvo as sinapses, os pontos de contato entre as células nervosas ou entre os nervos e os músculos.
Quando essa toxina se liga aos receptores da membrana pré-sináptica, ela desencadeia um fluxo descontrolado de íons de cálcio para dentro da célula. Esse influxo maciço de cálcio provoca a liberação de neurotransmissores, resultando em fortes contrações musculares e espasmos.
Cientistas e o veneno detalhado da viuva-negra
Apesar de o processo parecer simples, a forma como a α-latrotoxina atua é altamente complexa. A equipe de cientistas, liderada por Christos Gatsogiannis e Andreas Heuer, demonstrou que a toxina sofre uma transformação significativa ao se ligar aos receptores. Parte da molécula forma uma espécie de “haste” que penetra a membrana celular como uma seringa, criando um pequeno poro. Esse poro age como um canal de cálcio, permitindo que íons de cálcio fluam para dentro da célula de maneira descontrolada.
As simulações de dinâmica molecular revelaram que o fluxo de cálcio ocorre através de um “portão” seletivo, localizado logo acima do poro criado pela toxina. Essa descoberta lança luz sobre um dos aspectos mais intrigantes da α-latrotoxina: sua capacidade de imitar canais de cálcio naturais da membrana pré-sináptica, algo que a diferencia de todas as outras toxinas conhecidas até o momento.
As implicações dessa descoberta vão muito além da compreensão do veneno da viúva-negra. A α-latrotoxina pode ter um grande potencial biotecnológico, incluindo o desenvolvimento de antídotos mais eficazes, tratamentos para paralisia e até mesmo novos biopesticidas. As informações obtidas pela equipe de Münster representam um avanço importante tanto para a neurociência quanto para a biotecnologia.
Esses resultados foram publicados na prestigiada revista Nature Communications e abrem caminho para novas pesquisas sobre como outras toxinas atuam em organismos vivos. Além disso, o estudo detalha a estrutura da toxina antes e depois de sua inserção na membrana celular, fornecendo insights essenciais para futuros tratamentos e aplicações biotecnológicas.