- Psicodélicos como ferramenta de paz? Os Wari já sabiam a tática da cerveja psicodélica
- Cerveja alucinógena: estratégia social dos antigos peruanos.
- Banquetes psicodélicos criavam alianças, não guerras.
Uma descoberta surpreendente revelou como a civilização Wari, no antigo Peru, usava uma cerveja psicodélica para construir alianças e manter a paz. Um estudo publicado na revista Antiquity mostrou que essa civilização, que floresceu nos Andes entre 500 e 1000 d.C., misturava cerveja fermentada com uma droga alucinógena para fortalecer laços sociais com comunidades vizinhas.
Pesquisadores descobriram essa prática em Quilcapampa, um posto avançado Wari. Lá, escavações revelaram sinais claros da produção da chicha, uma bebida tradicional andina, feita a partir do milho. Porém, o mais curioso foi o achado de resíduos de vilca, uma planta rara e poderosa, que contém bufotenina, uma substância com fortes efeitos psicoativos.
Ao contrário de outras culturas antigas, os Wari não usavam a droga apenas em rituais espirituais. Em vez disso, serviam a bebida alucinógena em grandes banquetes, com o claro objetivo de impressionar convidados e criar laços de dependência social. De acordo com o arqueólogo Mathew Biwer, que liderou a pesquisa, os líderes Wari ofereciam experiências únicas, impossíveis de serem replicadas por outras comunidades.
“Os convidados saíam em dívida com os anfitriões Wari, pois não tinham como retribuir aquela experiência”, explicou Biwer em entrevista à CNN.
Essa estratégia evitava o uso da força militar e facilitava a expansão do império. Além disso, os banquetes, regados à chicha com vilca, atuavam como ferramenta política. Os Wari conquistavam domínio com hospitalidade e sensações intensas oferecidas aos convidados.

Cerveja psicodélica para evitar a guerra
A vilca não era encontrada localmente. Por isso, sua presença em Quilcapampa indica uma rede sofisticada de comércio e conhecimento reservado à elite. A planta vinha de regiões distantes, o que reforça a ideia de que os líderes usavam essa exclusividade para manter seu status.
Essa descoberta transforma nossa compreensão sobre o uso de substâncias psicoativas em civilizações antigas. Diferente de usos religiosos restritos, os Wari democratizavam a experiência em banquetes comunitários, ampliando sua influência sem confrontos.
Desse modo, o caso peruano não é único. Pesquisas recentes também revelaram o uso de bebidas fermentadas com drogas no antigo Egito. Assim, um vaso de 200 a.C. continha resquícios de frutas fermentadas misturadas com Peganum harmala e lótus azul egípcio – plantas conhecidas por seus efeitos psicoativos.
Pessoas consumiam esses coquetéis durante o Festival da Embriaguez para se conectar com o divino.