Composto revolucionário faz células de câncer de mama se autodestruir

Por Cássio Gusson
Células de câncer de mama podem se autodestruir Foto: Dall-e

Pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon (OSU) descobriram compostos inovadores que transformam a proteína Bcl-2, conhecida por proteger células cancerígenas, em um agente destruidor de tumores. Este avanço oferece novas esperanças para tratamentos de câncer de mama e outros tipos de câncer que utilizam a proteína Bcl-2 para resistir às terapias convencionais e desenvolver resistência a medicamentos.

Segundo o professor Siva Kolluri, da Faculdade de Ciências Agrárias da OSU, “o Santo Graal na pesquisa do câncer é encontrar um alvo molecular crucial no crescimento das células cancerígenas que possa ser atacado sem causar efeitos colaterais às células normais”. Os novos compostos descobertos pela equipe de Kolluri alteram o formato da proteína Bcl-2, fazendo com que ela promova a morte das células cancerígenas em vez de protegê-las.

A morte celular programada, ou apoptose, é um processo natural de reciclagem das células. No entanto, as células cancerígenas frequentemente neutralizam esses caminhos, permitindo seu crescimento descontrolado e a disseminação para outras partes do corpo. A proteína Bcl-2, que é antiapoptótica, é produzida em níveis elevados em algumas células cancerígenas e tem sido um alvo difícil para os pesquisadores.

“A inibição de Bcl-2 tem sido bem-sucedida no tratamento de certos cânceres de sangue, mas não para cânceres sólidos, como o câncer de mama”, explica Kolluri. “O que descobrimos é uma maneira de mudar a função dessa proteína para que ela comece a matar as células cancerígenas, efetivamente tirando as rodas do carro em vez de apenas pará-lo temporariamente.”

Câncer de mama

A pesquisa, liderada por Kolluri e pela professora Christiane Löhr, do Carlson College of Veterinary Medicine, focou no câncer de mama triplo-negativo, uma das formas mais agressivas da doença. Este tipo de câncer não possui três receptores específicos encontrados em outros cânceres de mama, o que o torna particularmente difícil de tratar. Representando cerca de 20% de todos os diagnósticos de câncer de mama, ele está associado a prognósticos ruins.

Os resultados da pesquisa foram publicados em duas revistas científicas. No *Cancer Research Communications*, os pesquisadores detalham a descoberta de um novo composto que muda a conformação da Bcl-2, expondo sua “conformação assassina” e levando à morte celular. No *ACS Pharmacology and Translational Science*, outro composto foi mostrado para induzir a morte de células de câncer de mama em cultura e suprimir a metástase pulmonar em um modelo de camundongo.

“Isso é muito promissor porque muitos cânceres metastáticos têm altos níveis de Bcl-2”, afirma Löhr. “Alterar a conformação de Bcl-2 para matar células é uma abordagem totalmente nova, com potencial para tratar cânceres resistentes a outras terapias enquanto poupa células normais.”

Os pesquisadores ressaltam que os resultados são fruto de anos de pesquisa detalhada e mecanicista. “Nós provamos todas as peças necessárias e mostramos uma prova de conceito”, diz Löhr. “Isso tem potencial não apenas para humanos, mas também para uso veterinário, como em casos de linfoma em cães.”

Os próximos passos incluem identificar parceiros para avançar a pesquisa para testes pré-clínicos adicionais e, eventualmente, ensaios clínicos em humanos. Essa descoberta representa um avanço significativo na luta contra o câncer, oferecendo novas esperanças para tratamentos mais eficazes e direcionados.

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Jornalista especializado em tecnologia, com atuação de mais de 10 anos no setor tech público e privado, tendo realizado a cobertura de diversos eventos, premiações a anúncios.
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