O conceito de tempo, que parece tão familiar a todos, é na verdade uma ilusão, segundo o professor Alberto Casas González, do Instituto de Física Teórica da Universidade Autônoma de Madri. Em um recente artigo publicado no G1, González abordou a complexidade e as peculiaridades do tempo à luz da física moderna, desafiando muitas das intuições comuns sobre o tema.
Albert Einstein, no início do século XX, revolucionou a compreensão do espaço e do tempo com suas teorias da Relatividade Especial (1905) e Geral (1915).
“De acordo com essas teorias, o tempo depende da velocidade do observador e do campo gravitacional ao qual ele está sujeito, fenômenos que foram demonstrados experimentalmente,” explicou González.
Ele acrescentou que essas descobertas mudaram a percepção do tempo, que passou a ser visto como a quarta dimensão, semelhante às três dimensões espaciais.
Tempo Relativo
González exemplificou a relatividade do tempo com um cenário cotidiano: “Suponha que o relógio de sua casa marque 10 horas quando você sai para caminhar e 11 horas quando volta. O senso comum diz que, para você, uma hora se passou e que o relógio em seu bolso também terá passado uma hora. Mas, a rigor, isso está incorreto.”
Ele explicou que, devido ao movimento, o tempo decorrido para o observador em movimento é ligeiramente menor do que para o relógio parado. “A diferença é tão pequena que, para todos os fins práticos, é zero. Mas quando se utiliza relógios atômicos, a discrepância é exatamente o que a teoria de Einstein prevê”, afirmou o professor.
Além disso, a gravidade também afeta a passagem do tempo. “Quando você está em pé, o tempo passa mais rápido em sua cabeça do que em seus pés”, disse González, ressaltando que isso foi comprovado experimentalmente.
Uma das percepções mais poderosas sobre o tempo é que ele flui do passado para o futuro, mas González sugere que essa passagem do tempo pode ser uma ilusão.
“Não há nada nas equações da física que nos diga que o tempo flui dessa forma”, afirmou ele.
Segundo o professor, as leis da física relacionam eventos em momentos diferentes, mas não indicam um fluxo temporal.
A percepção de que o tempo se move em uma direção específica, conhecida como “seta do tempo”, é explicada pelo segundo princípio da termodinâmica, que afirma que a entropia sempre tende a aumentar.
“Entropia é algo semelhante à desordem em um sistema físico. Há muito mais estados desordenados do que ordenados, e, portanto, a evolução sempre tende a desordenar os sistemas”, explicou González.
Ele citou o exemplo do Universo no momento do Big Bang, que tinha entropia muito baixa, permitindo que a entropia aumentasse com o tempo. “Desde esse instante remoto, a entropia só aumentou por meio de processos irreversíveis”, comentou González, observando que esses processos criam a seta do tempo que distingue o passado do futuro.
Causa e Efeito
González destacou que, embora os processos irreversíveis produzam um forte senso de causa e efeito, essa distinção não está presente nas equações da física. “Se nos for mostrado um instantâneo de ondulações circulares na superfície de um lago, nós as relacionaremos a algum estado de entropia mais baixa”, disse ele. “Por isso falamos de causas e efeitos, em que as primeiras precedem os segundos.”
Apesar dos avanços na compreensão do tempo, González admite que a natureza do tempo ainda não é completamente compreendida. “Ainda não conhecemos a natureza do tempo em toda a sua profundidade, e não saberemos até que a Teoria da Relatividade Geral e a Mecânica Quântica, os dois pilares da física moderna, sejam reconciliadas”, afirmou.
González concluiu sugerindo que a percepção do tempo pode ser uma ilusão muito forte.
“A passagem do tempo é uma ilusão. Uma ilusão muito forte, de fato”, disse ele, deixando uma reflexão profunda sobre a verdadeira essência do tempo e sua influência em nossas vidas.
