IgNobel 2024 premia as ‘piores’ pesquisas do ano: pombo para guiar mísseis e animais que respiram pelo ânus

Por Cássio Gusson
Prêmio ignobel premia as pesquisas inusitadas. Foto: Dall-e

A edição de 2024 do Ig Nobel, realizada na última quinta-feira (12), no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), premiou as pesquisas científicas mais curiosas e inusitadas do ano.

A cerimônia, que é conhecida por destacar trabalhos que “primeiro fazem rir, depois fazem pensar”, distribuiu 10 prêmios para cientistas de todo o mundo. Entre os principais destaques estão pesquisas sobre mamíferos que conseguem respirar pelo ânus e o uso de pombos como guias para mísseis.

Uma das pesquisas mais chamativas premiadas no Ig Nobel 2024 foi conduzida por uma equipe de pesquisadores japoneses que descobriram que certos mamíferos, como ratos e porcos, podem absorver oxigênio através do ânus.

A descoberta foi feita durante a pandemia de Covid-19 e sugere uma possível alternativa para tratar insuficiências respiratórias. Embora os testes em humanos ainda estejam em andamento, o estudo já passou por diversas fases experimentais em animais e pode abrir portas para novas abordagens médicas.

Outra pesquisa que chamou atenção foi um experimento norte-americano que explorou o uso de pombos como guias para mísseis. A ideia surgiu com base em estudos sobre a habilidade dessas aves em reconhecer padrões visuais.

Embora o projeto nunca tenha sido implementado, ele representa uma tentativa inovadora de aplicar características naturais dos animais em contextos militares. A pesquisa, embora inusitada, recebeu o Prêmio Ig Nobel de Paz e trouxe à tona discussões sobre o uso de animais em sistemas complexos de engenharia.

Destaques brasileiros no Ig Nobel 2024

O Brasil também foi destaque na edição deste ano. O botânico Felipe Yamashita, natural de Botucatu (SP), levou o prêmio na categoria de Botânica por sua pesquisa sobre a planta Boquila trifoliolata, que tem a capacidade de copiar a aparência de plantas artificiais ao seu redor. A descoberta abre novas discussões sobre a percepção visual das plantas, um campo ainda pouco explorado pela ciência.

O Ig Nobel é uma paródia do renomado Prêmio Nobel, e seu nome faz um trocadilho com a palavra inglesa “ignoble”, que significa algo não nobre. O objetivo é celebrar o incomum e estimular o interesse das pessoas na ciência, medicina e tecnologia, trazendo visibilidade para pesquisas que fogem do convencional. A cerimônia, que ocorre anualmente no MIT, é marcada por apresentações curtas e descontraídas, como o tradicional lançamento de aviões de papel, realizado por laureados do Nobel.

Além das descobertas envolvendo mamíferos que respiram pelo ânus e o treinamento de pombos para guiar mísseis, o Ig Nobel 2024 premiou trabalhos sobre trutas mortas influenciando o comportamento de outros peixes, e uma análise sobre a longevidade extrema em regiões onde fraudes de aposentadoria são comuns. Esses estudos, embora pareçam irrelevantes à primeira vista, trazem à tona questões profundas sobre o comportamento animal, o impacto ambiental e as particularidades sociais de diferentes regiões.

A cerimônia de 2024 reforçou a importância de olhar para o lado curioso e incomum da ciência. Os vencedores, mesmo com pesquisas aparentemente excêntricas, contribuem para ampliar o conhecimento e despertar novos questionamentos. O Ig Nobel continua a cumprir seu propósito de “fazer rir, e depois pensar”, destacando que a ciência não precisa ser séria o tempo todo para ter um impacto significativo no mundo.

Todos os vencedores do Ig Nobel 2024

  • Paz: O prêmio foi para o psicólogo B.F. Skinner, que investigou se pombos vivos poderiam ser usados dentro de mísseis para guiar os projéteis aos alvos. Embora o experimento tenha sido bem-sucedido em mostrar um pombo treinado, o projeto foi abandonado.
  • Botânica: Jacob White e Felipe Yamashita foram premiados por descobrir que a planta Boquila trifoliolata pode copiar as folhas de plantas artificiais ao seu redor. Isso sugere que as plantas podem ter algum tipo de percepção visual.
  • Medicina: Um grupo de pesquisadores da Suíça, Alemanha e Bélgica ganhou o prêmio por mostrar que medicamentos falsificados com efeitos colaterais dolorosos podem ser mais eficazes em pacientes do que os que não causam dor.
  • Física: James Liao, da Universidade da Flórida, recebeu o prêmio por sua pesquisa sobre trutas mortas.
  • Probabilidade: Uma equipe de 50 pesquisadores, majoritariamente dos Países Baixos, comprovou a hipótese de Persi Diaconis de que moedas lançadas têm uma leve tendência a cair com o mesmo lado para cima, após 350.757 lançamentos.
  • Química: Uma equipe de Amsterdã foi premiada por usar cromatografia para separar vermes “bêbados” de “sóbrios”. O estudo foi parte de uma pesquisa sobre ciência dos polímeros.
  • Biologia: Fordyce Ely e William Petersen foram reconhecidos por seu experimento de 1940, que demonstrou que vacas produzem menos leite quando um gato está em suas costas e sacos de papel estouram perto delas.
  • Anatomia: Roman Khonsari descobriu que há mais cabelos no couro cabeludo que espiralam no sentido anti-horário no hemisfério sul.
  • Fisiologia: Takanori Takebe recebeu o prêmio por sua pesquisa com mamíferos que podem respirar através dos intestinos usando o ânus.
  • Demografia: Saul Newman mostrou que registros de pessoas muito idosas vêm de lugares com vida curta e problemas como falta de certidões e fraudes. Isso desafia a validade dos recordes de idade extrema.
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Jornalista especializado em tecnologia, com atuação de mais de 10 anos no setor tech público e privado, tendo realizado a cobertura de diversos eventos, premiações a anúncios.
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