O uso frequente de cannabis de alta potência provoca alterações no DNA, especialmente em genes ligados à energia e à função imunológica. Essa descoberta, apontada por um estudo do King’s College London e da Universidade de Exeter, revela que a cannabis pode impactar a saúde mental através de mudanças biológicas profundas, destacando a importância de compreender os efeitos dessa substância no corpo humano.
Os pesquisadores identificaram que pessoas que consomem cannabis com frequência, especialmente a versão de alta potência (com teor de THC superior a 10%), apresentam marcas moleculares únicas no DNA.
Essas mudanças ocorrem em processos epigenéticos, ou seja, sem modificar diretamente a sequência do DNA, mas alterando a forma como os genes se expressam. Essa variação no comportamento genético pode influenciar funções vitais, como a produção de energia e a resposta imunológica, o que levanta preocupações sobre os impactos a longo prazo do uso de cannabis.
Efeitos da cannabis no DNA e a relação com a psicose
O estudo também trouxe à tona um dado alarmante: as mudanças no DNA são diferentes entre usuários de cannabis que já tiveram episódios de psicose e aqueles que nunca apresentaram sintomas psicóticos.
Isso sugere que o consumo de cannabis de alta potência pode aumentar o risco de desenvolvimento de transtornos mentais graves, especialmente em pessoas geneticamente ou biologicamente predispostas.
A pesquisa, publicada na revista Molecular Psychiatry, foi a primeira a associar o consumo de cannabis de alta potência a alterações epigenéticas no DNA, fornecendo insights valiosos sobre o impacto biológico do uso frequente da substância.
A análise utilizou amostras de sangue de 682 participantes, dos quais 239 tinham histórico de psicose e os demais eram indivíduos saudáveis.
Entre as alterações genéticas identificadas, os pesquisadores notaram mudanças no gene CAVIN1, que desempenha um papel fundamental na função mitocondrial e na resposta imunológica.
Essas alterações no DNA foram observadas principalmente em usuários frequentes de cannabis, que consumiam a substância mais de uma vez por semana e haviam começado a usá-la por volta dos 16 anos. Esse dado reforça a hipótese de que o uso precoce e frequente de cannabis pode trazer consequências genéticas significativas, afetando funções essenciais do organismo.
Diferentemente dos impactos bem conhecidos do tabaco no DNA, os efeitos da cannabis ocorrem de forma independente, ou seja, mesmo que muitos usuários misturem tabaco com cannabis, as mudanças moleculares associadas à cannabis de alta potência se destacam como um fator de risco próprio, não relacionado aos efeitos do cigarro.