- Pílula promete efeito de bypass sem cirurgia invasiva.
- Estudo inicial mostrou segurança e impacto nos hormônios da fome.
- Tecnologia busca manter a massa muscular durante a perda de peso.
A startup norte-americana Syntis Bio revelou resultados promissores de um novo medicamento oral que, sem necessidade de cirurgia, imita os efeitos do bypass gástrico, um tipo de procedimento bariátrico usado para tratar a obesidade grave. O procedimento reduz o tamanho do estômago e altera o trajeto dos alimentos pelo intestino, ajudando o paciente a comer menos e absorver menos calorias.
A empresa apresentou dados iniciais em humanos e animais durante o Congresso Europeu sobre Obesidade e Controle de Peso, realizado nesta semana.
A pílula cria um revestimento temporário no intestino delgado, redirecionando os nutrientes da parte superior para a parte inferior do órgão. Essa mudança ativa hormônios da saciedade, como o GLP-1. Assim, reduzem o apetite e favorecem a perda de peso de forma semelhante aos medicamentos da classe GLP-1, como Ozempic e Wegovy.
Rahul Dhanda, CEO e cofundador da Syntis Bio, explica:
Quando os nutrientes são redirecionados para o final do intestino, você ativa caminhos que levam à saciedade, ao gasto de energia e à perda de peso saudável e sustentável em geral.
Pílula pode mudar tratamento da obesidade
O medicamento, desenvolvido com base em pesquisas do MIT, utiliza dopamina e peróxido de hidrogênio. Quando essa mistura chega ao intestino, entra em contato com a enzima catalase, que transforma a dopamina em polidopamina, criando uma película que reveste temporariamente o intestino. Além disso, o revestimento se dissolve naturalmente em cerca de 24 horas, sem efeitos tóxicos.
Em testes com animais, a pílula promoveu perda de peso semanal de 1% em seis semanas, sem redução da massa muscular magra. Já em um estudo piloto com nove voluntários humanos, os pesquisadores observaram níveis reduzidos de glicose e grelina, além de aumento da leptina, o hormônio que regula o apetite. A princípio, nenhum dos participantes relatou efeitos colaterais significativos.
O tratamento pode representar uma alternativa mais acessível e confortável do que medicamentos injetáveis, que custam até R$ 2.940 (US$ 500) por mês e podem provocar náuseas e vômitos.
Ainda que especialistas como Vladimir Kushnir, da Universidade Washington em St. Louis, alertem para possíveis efeitos colaterais gastrointestinais em estudos maiores, os dados iniciais empolgam. Kushnir acredita que o medicamento possa causar inchaço, cólicas ou diarreia, mas vê potencial na abordagem.
A Syntis agora planeja testes clínicos em larga escala com uma versão em cápsula, que já passou por testes em porcos e cães. Caso os próximos estudos confirmem a eficácia e segurança, o novo comprimido pode se consolidar como uma revolução no tratamento da obesidade, oferecendo uma alternativa menos invasiva, mais acessível e com menor risco de perda muscular