Epidemia mortal de fungos se espalha por gatos no Brasil

Por Cássio Gusson
Imagem: Grok
  • Epidemia fúngica em gatos ameaça saúde pública no Brasil.
  • Fungos evoluem rápido com poluição; alerta para donos de gatos.
  • Sporothrix brasiliensis se espalha e desafia tratamentos atuais.

Uma epidemia perigosa avança silenciosamente pelo Brasil. Trata-se da esporotricose, uma infecção fúngica grave, transmitida principalmente por gatos infectados, que agora se espalha com força em regiões urbanas.

Pesquisadores brasileiros descobriram que a doença está evoluindo rapidamente, possivelmente impulsionada pela poluição e por adaptações genéticas do fungo Sporothrix brasiliensis.

O surto começou no Rio de Janeiro, no fim dos anos 1990, e desde então, não parou de crescer. Atualmente, o Brasil enfrenta a maior e mais duradoura epidemia de esporotricose do mundo, com impactos significativos na saúde pública. A transmissão ocorre com facilidade: arranhões, mordidas ou até o contato com secreções de gatos contaminados já são suficientes para infectar humanos.

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), liderados pelo Dr. Anderson Messias Rodrigues, realizaram um estudo recente que traz descobertas alarmantes. Eles identificaram 79 variantes genéticas diferentes do fungo, muito acima do esperado. Essa diversidade genética aponta para uma rápida adaptação do fungo ao ambiente urbano, especialmente em locais com altos índices de poluição.

Poluentes como benzeno e tolueno, comuns nas grandes cidades, podem estar acelerando essa evolução. O fungo usa uma enzima, a CMC, para metabolizar essas substâncias, ganhando vantagens em ambientes contaminados. Esse processo pode estar tornando o S. brasiliensis mais forte, mais resistente e mais transmissível.

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Fungo que se espalha pelos gatos
Imagem: tandfonline

Fungo que se espalha por gatos

Outro dado preocupante é que essa espécie já mostra resistência a medicamentos antifúngicos tradicionais. Além disso, apresenta maior capacidade de causar doença e se espalhar entre gatos e humanos. A situação é agravada pela falta de políticas públicas eficazes, pelo grande número de gatos abandonados e pela baixa vigilância sanitária em muitas regiões.

O estudo identificou ainda alvos moleculares promissores para novos testes diagnósticos e tratamentos. Foram mapeados epítopos e sítios de glicosilação que poderão, no futuro, servir como base para vacinas e terapias mais eficazes contra a doença.

Para o Dr. Rodrigues, entender essa evolução genética é essencial. “Precisamos melhorar o diagnóstico e a vigilância, especialmente nas regiões com maior incidência da doença”, afirmou o pesquisador. Ele alerta que, sem ações coordenadas, a epidemia pode se tornar incontrolável, atingindo tanto a saúde humana quanto a animal.

A esporotricose já ultrapassou as fronteiras do Brasil, chegando a países vizinhos. O avanço exige uma resposta urgente das autoridades, incluindo campanhas de conscientização, controle populacional de gatos e acesso facilitado a tratamentos.

Enquanto isso, especialistas recomendam que tutores evitem o contato direto com gatos de rua e busquem atendimento veterinário imediato ao menor sinal de feridas suspeitas nos animais. A epidemia segue crescendo e, se nada for feito, o Brasil poderá enfrentar uma crise de saúde pública ainda mais grave nos próximos anos.

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Jornalista especializado em tecnologia, com atuação de mais de 10 anos no setor tech público e privado, tendo realizado a cobertura de diversos eventos, premiações a anúncios.
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