Um estudo inovador publicado na renomada revista Nature Communications revelou que o veneno do caracol-cone, uma das criaturas mais letais do planeta, pode ser a chave para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e duradouros para o diabetes e distúrbios hormonais. A descoberta tem potencial para transformar a medicina, trazendo novas esperanças para milhões de pessoas ao redor do mundo.
O caracol-cone, especificamente a espécie conhecida como cone geográfico, é um predador marinho que utiliza seu veneno altamente tóxico para paralisar e capturar suas presas. No entanto, uma equipe internacional de cientistas, liderada pela Universidade de Utah, identificou uma toxina no veneno deste caracol que imita a somatostatina, um hormônio humano que desempenha um papel crucial na regulação dos níveis de açúcar no sangue e de vários outros hormônios no corpo.
A toxina identificada, batizada de consomatina, mostrou-se surpreendentemente eficaz ao imitar a somatostatina, mas com uma precisão e durabilidade muito superiores às versões naturais ou sintéticas do hormônio.
“A consomatina se mostrou mais estável e específica que a somatostatina, o que a torna um modelo promissor para o desenvolvimento de novos medicamentos”, afirma a Dra. Helena Safavi, PhD, professora associada de bioquímica na Spencer Fox Eccles School of Medicine da Universidade de Utah e autora sênior do estudo.
A somatostatina, conhecida como o “pedal de freio” do corpo, impede que os níveis de açúcar no sangue e de hormônios subam a níveis perigosamente altos. No entanto, sua aplicação em tratamentos médicos é limitada pela sua rápida degradação no corpo e por sua ação ampla, que pode causar efeitos colaterais indesejados. A consomatina, por outro lado, interage de forma mais precisa e duradoura com as proteínas-alvo, focando especificamente na regulação dos níveis hormonais e de açúcar no sangue, sem afetar outras moléculas importantes.
Diabetes e distúrbios hormonais
A descoberta abre um novo caminho para o design de medicamentos que podem ser mais eficazes e ter menos efeitos colaterais. “Animais peçonhentos, por meio da evolução, ajustaram componentes de veneno para atingir um alvo específico na presa e perturbá-la. Se você pegar um componente individual da mistura de veneno e observar como ele perturba a fisiologia normal, esse caminho geralmente é realmente relevante em doenças”, explica Safavi.
Para os pesquisadores, a estrutura única da consomatina, que inclui um aminoácido incomum, é particularmente interessante porque dificulta sua degradação, prolongando seus efeitos no organismo.
Embora os efeitos da consomatina sobre os níveis de açúcar no sangue possam torná-la perigosa para uso direto como medicamento, sua estrutura oferece um modelo valioso para o desenvolvimento de novos tratamentos. Cientistas estão otimistas de que, ao entender melhor como essa toxina funciona, poderão criar medicamentos mais seguros e eficazes para o tratamento de distúrbios endócrinos, incluindo o diabetes.