Cientistas da ETH Zurich criaram uma técnica revolucionária para reciclar metais raros, considerado o ‘ouro’ da tecnologia e que são essenciais para a tecnologia moderna, a partir de lixo eletrônico.
Utilizando uma molécula simples que naturalmente atua como um sítio de ligação para metais em enzimas, os pesquisadores conseguiram separar metais de terras raras de forma muito mais eficiente do que os métodos atuais.
Os metais de terras raras são fundamentais para a economia digital e a transição energética. Eles são usados em uma vasta gama de dispositivos, desde smartphones e computadores até turbinas eólicas e veículos elétricos.
No entanto, sua extração é complexa, cara e ambientalmente prejudicial, pois esses metais geralmente estão presentes em compostos químicos muito similares nos minérios naturais, o que torna sua separação um processo intensivo em energia e recursos.
A equipe, liderada pelo Professor Victor Mougel, apresentou em um estudo publicado na Nature Communications um método inovador que utiliza tetratiometalatos – pequenas moléculas inorgânicas com átomos de enxofre e tungstênio ou molibdênio – para separar metais de terras raras.
Inspirados pela forma como os metais se ligam em enzimas naturais, os pesquisadores aplicaram essas moléculas para separar o európio de misturas complexas de metais.
Marie Perrin, doutoranda no grupo de Mougel e autora principal do estudo, explicou: “Os métodos existentes de separação são baseados em centenas de etapas de extração líquido-líquido e são ineficientes – a reciclagem do európio até agora tem sido impraticável.” Com a nova técnica, é possível obter európio em quantidades pelo menos 50 vezes maiores do que os métodos tradicionais.
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Lixo eletrônico pode ser reciclado
Este método não apenas é mais eficiente, mas também significativamente mais ecológico. Ao aplicar diretamente a resíduos de lâmpadas fluorescentes usadas, sem necessidade de etapas de pré-tratamento, o processo pode transformar o lixo eletrônico em uma mina urbana valiosa.
“Se aproveitarmos essa fonte, o lixo de lâmpadas que atualmente é enviado para aterros poderia ser reciclado aqui mesmo na Suíça”, afirma Mougel.
Além disso, esta abordagem pode ser estendida para outros metais de terras raras, como neodímio e disprósio, usados em ímãs de alta performance. A reciclagem eficiente desses metais reduziria a dependência de importações, especialmente da China, que atualmente domina o mercado global desses materiais críticos.
Os pesquisadores estão fundando uma start-up chamada REEcover para comercializar essa tecnologia inovadora. A empresa focará em adaptar o processo para outros metais de terras raras e implementar a reciclagem desses materiais em larga escala.
“Nosso objetivo é tornar a reciclagem de metais de terras raras prática e sustentável, beneficiando tanto a economia quanto o meio ambiente”, conclui Perrin.