Pesquisadores da Universidade de Stanford desenvolveram uma técnica inovadora que utiliza corantes alimentares para tornar a pele e outros tecidos transparentes de forma segura e reversível.
O estudo, publicado na renomada revista Science em setembro de 2024, apresenta uma nova abordagem que pode transformar áreas da medicina, como diagnóstico, tratamento de câncer e outras intervenções.
A técnica usa um corante comum e seguro chamado FD&C Amarelo 5, conhecido popularmente como tartrazina. Ao ser aplicado na pele de animais, o corante altera a maneira como a luz interage com os tecidos, tornando-os transparentes e permitindo uma visão clara dos órgãos e vasos sanguíneos. A inovação foi testada em camundongos e revelou resultados impressionantes.
A pele dos animais tornou-se temporariamente invisível, permitindo que os cientistas visualizassem estruturas internas com clareza, como vasos sanguíneos no cérebro e contrações intestinais.
Segundo Guosong Hong, professor assistente de ciência dos materiais e engenharia de Stanford e um dos líderes do projeto, a técnica tem implicações que vão além da curiosidade científica.
“Essa inovação pode, no futuro, tornar as veias mais visíveis para procedimentos médicos, facilitar a remoção de tatuagens e até melhorar tratamentos com laser para eliminar células cancerígenas”, explicou Hong.
O estudo também abre portas para novas formas de diagnóstico e monitoramento de doenças. A transparência temporária dos tecidos pode ajudar médicos a localizar tumores ou ferimentos sem a necessidade de procedimentos invasivos. Além disso, a técnica é completamente reversível. Após algumas horas, os tecidos tratados com o corante voltam à sua opacidade original sem efeitos colaterais duradouros.
Como funciona a “magia” do corante para tornar a pele invisível
O segredo por trás da técnica está na física da luz. A dispersão da luz, que normalmente impede que vejamos através de materiais biológicos, é controlada pelo índice de refração dos tecidos. O corante tartrazina ajusta esse índice, fazendo com que a luz passe diretamente pelos tecidos ao invés de ser dispersa. Isso cria o efeito de invisibilidade temporária.
A pesquisa foi apoiada pela National Science Foundation dos EUA e contou com uma equipe de mais de 20 cientistas. Embora ainda esteja em fases preliminares de estudo, essa descoberta tem potencial para mudar o futuro da medicina e melhorar diversos procedimentos médicos.
A próxima etapa dos cientistas é testar a técnica em organismos maiores e explorar novas aplicações para a transparência de tecidos. Com essa abordagem inovadora, os cientistas acreditam que será possível criar uma nova classe de ferramentas médicas que melhoram diagnósticos, cirurgias e tratamentos de doenças graves, como o câncer.
No entanto, os pesquisadores destacam que a técnica ainda não foi testada em humanos e requer mais estudos antes de ser amplamente utilizada. Mesmo assim, o avanço promete transformar o campo da biomedicina, tornando visível o que antes estava oculto sob a pele.