Uma tragédia ambiental de grandes proporções atingiu o Rio Piracicaba, no interior de São Paulo. Entre os dias 7 e 15 de julho, o despejo de uma substância poluente resultou na morte de 50 toneladas de peixes, conforme relatado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A maior mortandade ocorreu na região do Tanquã, conhecida como o Mini Pantanal Paulista.
O Tanquã, uma área de proteção ambiental que abriga um ecossistema semelhante ao Pantanal, foi duramente afetado. A região, que ocupa 15 hectares e é conhecida por sua rica biodiversidade, viu a morte de 235 mil espécimes nativos devido à poluição. A usina São José foi identificada pela Cetesb como a responsável pelo desastre, resultando em uma multa de R$ 18 milhões.
A poluição foi causada pelo extravasamento de resíduos de cana-de-açúcar, especificamente melaço, durante o processo industrial da usina. Esses resíduos foram arrastados para o Ribeirão Tijuco Preto, um afluente do Rio Piracicaba. A água ficou ácida e a carga orgânica reduziu o nível de oxigenação, inviabilizando a vida aquática. A poluição se estendeu por cerca de 60 quilômetros, acumulando-se no Tanquã.
Peixes mortos em Piracicaba
A prefeitura de Piracicaba, em conjunto com uma força-tarefa da Cetesb e outros órgãos governamentais, iniciou a remoção dos peixes mortos. Utilizando tratores aquáticos, as equipes estão recolhendo o material para transporte até o aterro sanitário de Piracicaba. O Ministério Público Estadual também abriu um inquérito para apurar o incidente e está acompanhando de perto a situação.
A Usina São José alega que não há provas conclusivas sobre sua responsabilidade no caso. Em nota, a empresa afirmou estar colaborando com as investigações e revisando o relatório da Cetesb. A usina também destacou que suas operações haviam sido retomadas recentemente, após uma interrupção desde 2020, e que outras fontes de poluição na região não foram consideradas no relatório.
O impacto ambiental é devastador. Segundo Francisco Chagas, pescador da Colônia de Pesca Z-20 de Barra Bonita, a mortandade comprometerá a pesca na região por anos. “Morreu dourado de 10 quilos, um peixe que leva dez anos para chegar a esse peso. Morreu curimbatá, pacu, corvina, mandi, traíra e piapara, que são peixes nativos e demoram para crescer”, afirmou.
O professor Flávio Bertin Gandara Mendes, da Esalq/USP, destacou que o impacto na fauna aquática pode ser revertido, mas o processo será lento e deve durar vários anos. “A mortandade foi muito grande e matou peixes de grande porte. Na próxima piracema, virão poucos filhotes e haverá uma redução drástica na oferta de peixes”, disse Mendes.