A Globo recebeu críticas por empregar inteligência artificial para gerar vozes em sua nova série documental “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447”, lançada recentemente no Globoplay.
Utilizando uma brecha no acordo com dubladores, a empresa gerou vozes mecanicamente para alguns dos entrevistados, provocando protestos do movimento Dublagem Viva, que alegou a perda de trabalho para muitos profissionais do setor. A Globo, por sua vez, afirma ter cumprido todas as obrigações com as empresas de dublagem.
Em cada um dos quatro episódios da série, os espectadores são informados no início de que as entrevistas concedidas em língua estrangeira foram dubladas em português utilizando a voz dos próprios entrevistados, por meio de inteligência artificial, em conformidade com todos os direitos e leis aplicáveis. A mensagem também especifica que os entrevistados que não concordaram com a dublagem foram legendados.
Para justificar o uso da IA, a Globo argumenta que não há leis específicas regulando essa tecnologia em produtos audiovisuais e que a empresa cumpriu os acordos estabelecidos com as empresas de dublagem, não utilizando as vozes de seus dubladores através de IA ou para o treinamento de IA.
Em nota, a Globo ressaltou que todas as vozes geradas por IA foram dos próprios entrevistados e que esses procedimentos foram autorizados por eles, evitando assim qualquer problema com direitos autorais e reduzindo os custos de pós-produção.
Dublagem Viva emite comunicado crítico
A estreia da série gerou repercussão imediata nas redes sociais. O perfil Dublagem Viva, que representa os interesses dos profissionais de dublagem, publicou um comunicado criticando a prática da Globo.
Segundo o movimento, aproximadamente 50 profissionais, direta e indiretamente ligados à dublagem, perderam oportunidades de trabalho apenas com este projeto. A preocupação maior expressa no comunicado é que essa prática possa se tornar comum entre outras distribuidoras, serviços de streaming e produtoras.
O grupo argumenta que a utilização de IA para dublagem resulta em um produto de baixa qualidade, com melodia e ritmo que não correspondem ao português brasileiro, apesar de usar as vozes originais como base. Além disso, a opção de legendar os personagens que não aceitaram ter suas vozes geradas por IA foi criticada por potencialmente prejudicar a acessibilidade para pessoas cegas ou com dificuldades de leitura.
Questionada sobre os detalhes técnicos do processo de dublagem por IA, a Globo não forneceu informações específicas, nem esclareceu se algum dublador foi utilizado como voz-guia.
A ausência de regulamentação específica para o uso de IA na dublagem é vista pelo movimento Dublagem Viva como uma ameaça presente, que já está impactando empregos e rendas de famílias que dependem desse trabalho.
Em resposta às críticas, a Globo divulgou uma nota reiterando seu compromisso com a inovação tecnológica e a ética em suas práticas, destacando que a utilização de IA em “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447” seguiu todos os acordos firmados com empresas de dublagem.