Policiais adotam IA para redigir relatórios em algumas cidades nos EUA

Por Luciano Rodrigues
Policiais adotam IA para redigir relatórios em algumas cidades nos EUA - Imagem: Dall-E

Em Oklahoma City, nos EUA, a tecnologia de inteligência artificial está começando a moldar a forma como a polícia trabalha. Uma nova ferramenta desenvolvida pela Axon, chamada Draft One, permite que os policiais gerem relatórios de incidentes em segundos, baseando-se nas gravações de áudio capturadas pelas câmeras corporais.

O sargento da polícia Matt Gilmore, por exemplo, testou a tecnologia após uma operação de busca que durou quase uma hora.

Em vez de gastar até 45 minutos redigindo um relatório, ele conseguiu um rascunho inicial em apenas oito segundos, e ficou impressionado com a precisão e fluidez do texto gerado pela IA.

O Draft One utiliza a mesma tecnologia de inteligência artificial que alimenta o ChatGPT, mas com ajustes para garantir que os relatórios se atenham aos fatos.

A ferramenta foi desenvolvida pela Axon, conhecida por fornecer câmeras corporais e tasers para departamentos de polícia nos Estados Unidos.

Segundo Gilmore, o relatório produzido pela IA foi “melhor do que eu poderia ter escrito” e incluía detalhes que ele mesmo não havia percebido durante a operação.

Questionamentos sobre o uso de IA pelos policiais

Embora a adoção de IA para redigir relatórios tenha sido recebida com entusiasmo por muitos policiais, que veem a tecnologia como uma forma de reduzir a burocracia e se concentrar mais no trabalho de campo, críticos levantam questões sobre os riscos envolvidos.

A principal preocupação é que, ao automatizar a redação de relatórios, os policiais possam se tornar menos cuidadosos na coleta e documentação de informações, o que pode impactar diretamente o sistema de justiça criminal.

Promotores e especialistas jurídicos expressam receios de que a precisão e a objetividade dos relatórios possam ser comprometidas.

Um dos principais problemas identificados é a possibilidade de “alucinação” dos modelos de IA, em que informações falsas ou distorcidas podem ser adicionadas ao relatório de maneira sutil, mas convincente.

Andrew Ferguson, professor de direito na American University, ressalta que um relatório policial é frequentemente o único testemunho que um juiz vê, especialmente em casos menores, e erros gerados por IA podem ter sérias consequências para a liberdade dos indivíduos.

Além disso, preocupações sobre viés racial e outros preconceitos presentes na tecnologia de IA também são levantadas.

Aurelius Francisco, ativista comunitário em Oklahoma City, alerta que a automação dos relatórios pode facilitar abusos policiais e aumentar a vigilância e o assédio sobre minorias, uma crítica que reflete o temor de que a tecnologia possa reforçar desigualdades existentes.

Atualmente, o uso do Draft One está restrito a relatórios de incidentes menores em Oklahoma City, mas outras cidades, como Lafayette, Indiana, e Fort Collins, Colorado, já permitem que a ferramenta seja usada em casos mais complexos.

À medida que a tecnologia se torna mais popular, o debate sobre suas implicações éticas e legais deverá se intensificar, exigindo maior regulamentação e supervisão para garantir que a automação no policiamento não comprometa a justiça e os direitos civis.

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Jornalista, assessor de comunicação, escritor e comunicador, com MBA em jornalismo digital e 12 anos de experiência, tendo passado também por alguns veículos no setor tech.
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