Nessa quinta-feira (7), o retrato do matemático inglês Alan Turing, intitulado “A.I. God” e criado pelo robô humanoide Ai-Da, foi vendido por cerca de R$ 7,4 milhões (US$ 1,3 milhão) em um leilão realizado pela Sotheby’s Digital Art Sale.
Com 2,2 metros de altura, a obra superou em muito a estimativa inicial da casa de leilões, que fixou o preço em pouco mais de R$ 1 milhão (US$ 180 mil).
O evento marcou a primeira vez que uma obra de arte feita por um robô humanoide foi arrematada em leilão, consolidando a interseção entre arte e inteligência artificial.
A Sotheby’s descreveu a venda como um acontecimento histórico na arte moderna e contemporânea, sublinhando o papel crescente da inteligência artificial no mercado artístico global.
O robô artista Ai-Da, por meio de sua programação de IA, declarou:
O valor-chave do meu trabalho é sua capacidade de servir como um catalisador para o diálogo sobre tecnologias emergentes. (…) [um] retrato do pioneiro Alan Turing convida os espectadores a refletir sobre a natureza divina da IA e da computação, ao mesmo tempo em que consideram as implicações éticas e sociais desses avanços.
A escolha de Alan Turing, um dos maiores pioneiros da informática, como tema do retrato, reforça a reflexão sobre a “natureza quase divina” da tecnologia da IA e suas implicações éticas e sociais.
Ai-Da: o robô artista que explora o impacto tecnológico
Ai-Da, um dos robôs mais avançados do mundo, foi projetado com forma feminina pelo especialista em arte Aidan Meller, que liderou uma equipe multidisciplinar com apoio de pesquisadores em inteligência artificial das universidades de Oxford e Birmingham.
Segundo Meller, o objetivo de Ai-Da é seguir a tradição dos grandes artistas que, ao longo da história, celebraram e questionaram as mudanças sociais de suas épocas.
Como tecnologia, Ai-Da é o artista ideal para abordar o desenvolvimento da própria tecnologia e seu legado para a sociedade.
Com capacidade para interagir com os membros do estúdio e gerar ideias, foi a própria Ai-Da que sugeriu a criação de um retrato de Turing.
A escolha de cores, estilo e texturas também foi elaborada por meio de uma série de interações e consultas feitas pelos artistas assistentes. Eles colocaram uma fotografia de Turing em frente às câmeras oculares do robô, e o humanoide, por sua vez, produziu a obra utilizando algoritmos de inteligência artificial.
Meller explicou que o retrato, com seus tons apagados e planos faciais fragmentados, parece refletir as preocupações que Turing manifestou sobre o uso da inteligência artificial, mesmo antes de sua implementação na sociedade moderna.
Ele ressaltou que a criação de Ai-Da possui um caráter “etéreo e perturbador”, características que reforçam os questionamentos sobre o futuro da inteligência artificial e o poder crescente que essa tecnologia exerce na sociedade atual.
O robô Ai-Da é nomeado em homenagem a Ada Lovelace, matemática do século XIX considerada a primeira programadora da história.
Essa referência, assim como o retrato de Turing, representa o passado e o futuro da inteligência artificial, resgatando figuras fundamentais da ciência e inserindo-as no contexto do debate contemporâneo sobre tecnologia e arte.