- IA do inTouch conversa com idosos e envia resumos por app.
- Especialistas questionam autenticidade e impacto emocional.
- CEO afirma que objetivo não é substituir contato humano.
A startup inTouch quer revolucionar a forma como famílias se conectam — ou talvez substituir parte dessa conexão. A empresa lançou um serviço que usa inteligência artificial para ligar para seus pais ou avós, manter uma conversa básica e, em seguida, enviar um resumo emocional para você.
Por R$ 176 (US$ 29,90) por mês, a IA conversa sobre hobbies, sentimentos e envia um indicador de humor da pessoa atendida, como “neutro” ou “mau humor”.
“Vida agitada? Você não pode ligar para seus pais todos os dias, mas nós podemos”, anuncia o site da startup, que se apresenta como um apoio emocional diário para idosos. A proposta inclui benefícios como estímulo cognitivo, fortalecimento de vínculos e preservação de memórias familiares.
inTouch escuta — mas não substitui o humano
O jornalista Joseph Cox, do 404 Media, textou a ferramenta e, durante os testes, o serviço mostrou que funciona como prometido. A IA ligou para um número de teste, interagiu com temas sugeridos e enviou notificações para o app do responsável, informando mudanças de humor ou novos tópicos de interesse.
Ainda assim, o serviço levantou questionamentos éticos e emocionais. A mãe do autor do teste opinou:
Acho que a velocidade da fala é muito rápida e profissional. Pelos vídeos, parece que estou falando com uma ligação telefônica automática de uma empresa.
Hongtu Chen, pesquisador de Harvard, também criticou a proposta, e alertou que substituir o contato humano por um robô pode ser vazio ou até alienante:
As conversas humanas dentro das famílias são repletas de memórias compartilhadas, piadas internas, nuances emocionais e compreensão contextual construída ao longo de décadas. Essas características não são facilmente capturadas pela IA, mesmo com personalização avançada.
O fundador da inTouch, Vassili Le Moigne, reconhece os limites da tecnologia. Segundo ele, a ideia surgiu para ajudar a cuidar de sua mãe de 88 anos enquanto morava longe.
Nunca substituiremos o toque humano, não podemos impedir que o corpo falhe, estamos apenas tentando garantir que os idosos mantenham o controle e possam trabalhar em seu legado por um pouco mais de tempo ao lado de seus familiares.
A IA não pretende imitar um ente querido, mas sim manter o idoso ativo e emocionalmente acompanhado, sobretudo em dias em que o contato humano não ocorre. Além disso, a pessoa que ativa o serviço também pode ajustar as configurações, como horários de chamada e frequência de alertas.
Apesar da inovação, a aceitação ainda depende da reação de quem recebe as ligações.