Recentemente, milhares de famílias se viram surpreendidas ao encontrar obituários falsos de seus entes queridos nos resultados de pesquisa do Google. O portal The Verge revelou que esses obituários — frequentemente gerados por inteligência artificial — têm como alvo pessoas comuns, não apenas celebridades, visando extrair cliques e, consequentemente, receita de anúncios dos leitores.
Um novo relatório da organização de vigilância Check My Ads rastreou alguns dos intermediários que lucram com esse nefasto esquema de spam: as bolsas de anúncios, empresas que conectam marcas interessadas em veicular anúncios com os sites onde os anúncios serão exibidos.
Um exemplo notório é o HausaNew.com.ng, uma verdadeira fábrica de conteúdo que, até recentemente, produzia obituários e notícias sobre mortes em cidades dos EUA.
O site publicou um obituário impessoal e sensacionalista de Harrison Sylver, de 20 anos, que tirou a própria vida no início deste ano. A mãe de Sylver, Nancy Arnold, encontrou dezenas de sites semelhantes com obituários falsos, alguns relatando detalhes imprecisos sobre onde seu filho cresceu, quais eram seus hobbies e como ele morreu.
Atualmente, o HausaNew.com.ng redireciona para uma página sobre “Canada Travels” repleta de listas de empregos aleatórias, e uma busca pelo obituário de Sylver não produz resultados.
Obituários atraem cliques que geram receita para o site
O modus operandi dessas fábricas de conteúdo é simples: ganhar dinheiro hospedando anúncios digitais em seus sites, recebendo alguns centavos por visita ou clique em um anúncio.
Outro site identificado pelo Check My Ads é o SarkariExam.com, que, embora não tenha publicado uma história sobre Sylver, inundou a web com obituários mal escritos e imprecisos de outras pessoas, lucrando com anúncios junto a esse conteúdo.
O Check My Ads usou o site well-known.dev para cruzar conexões entre SarkariExam.com e bolsas de anúncios, revelando que a TripleLift estava entre as empresas colocando anúncios no site.
Ryan Levitt, vice-presidente de comunicações da TripleLift, reconheceu que os anúncios de seus clientes estavam aparecendo no SarkariExam.com e disse que a empresa abriu uma investigação interna.
Levitt acrescentou que a TripleLift planeja atualizar seus termos para proibir claramente o spam de obituários gerados por IA.
A empresa revelou que a SarkariExam.com ganhou cerca de US$ 100 via sua plataforma nos últimos dois anos.
Outras bolsas de anúncios, como a Teads, não responderam às descobertas do Check My Ads.
Vale mencionar que a Teads foi adquirida por US$ 1 bilhão.
O Google também afirmou que trabalhará para diminuir a visibilidade desses sites de spam de obituários.
“Analisamos os exemplos que você compartilhou e tomamos as medidas adequadas. Quando encontramos conteúdo que viola nossas políticas de editor, tomamos medidas e removemos anúncios da veiculação. Aplicamos nossas políticas tanto no nível da página quanto no nível do site”, disse um porta-voz do Google ao Check My Ads.