Meta diz que não vai mais checar fatos em suas redes e Brasil vê referência ao STF em anúncio

Por Luciano Rodrigues
Imagem: Dall-E

Nesta terça-feira (7), Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou o encerramento do programa de checagem de fatos (fact-checking), que serão substituídos por um sistema no qual os próprios usuários poderão adicionar notas ou correções a postagens suspeitas de conter informações falsas.

Esse modelo de “Notas de Comunidade” já é utilizado pelo X (antigo Twitter) e, segundo Zuckerberg, reflete um retorno às raízes da liberdade de expressão, que ele acredita ter sido prejudicada pelo sistema de checagem de fatos que, segundo ele, “chegou a um ponto de muitos erros e censura demais.”

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O anúncio de Zuckerberg gerou controvérsias em vários pontos da declaração:

A Europa tem um número cada vez maior de leis institucionalizando a censura e tornando difícil construir qualquer coisa inovadora lá. Os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas (das redes sociais) silenciosamente. A China censurou aplicativos de funcionarem no país.

A citação “países latino-americanos têm tribunais secretos” foi entendida pela Secretaria de Comunicação (Secom)  como uma referência ao Brasil .

O Secretário de Políticas Digitais da Secom, João Brant, afirmou em sua conta no X:

O anúncio feito hoje por Mark Zuckerberg antecipa o início do governo Trump e explicita aliança da Meta com o governo dos EUA para enfrentar União Europeia, Brasil e outros países que buscam proteger direitos no ambiente online (na visão dele, os que ‘promovem censura’). (…) É uma declaração fortíssima, que se refere ao STF como ‘corte secreta’, ataca os checadores de fatos (dizendo que eles ‘mais destruíram do que construíram confiança’) e questiona o viés da própria equipe de ‘trust and safety’ da Meta – para fugir da lei da Califórnia.

Em suas redes sociais, Brant destacou que a Meta estava se alinhando politicamente com a administração de Donald Trump, um posicionamento que, segundo ele, reflete um movimento de resistência a políticas públicas voltadas à regulação do ambiente digital no Brasil e na Europa.

Além disso, Brant criticou a postura da Meta em relação à liberdade de expressão, afirmando que a empresa está se afastando da proteção dos direitos individuais e coletivos em favor de uma “liberdade de expressão individual” que, segundo ele, favoreceria apenas interesses políticos.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Ele alertou para o fato de que a Meta poderia prejudicar financeiramente as empresas de checagem de fatos e fortalecer uma narrativa que privilegia a desinformação.

Impacto nas relações internacionais e o futuro da moderação de conteúdo

O anúncio de Zuckerberg se alinha a uma tendência crescente de resistência a regulamentações mais rígidas sobre as plataformas digitais, como aquelas promovidas pela União Europeia e pelo Brasil.

Esses locais têm buscado maior controle sobre o conteúdo compartilhado online, visando reduzir a propagação de desinformação e proteger os direitos dos usuários.

A Meta também reafirmou sua postura de defesa das proteções constitucionais dos EUA sobre a liberdade de expressão, ao afirmar que os Estados Unidos possuem as “mais fortes proteções para liberdade de expressão no mundo”, em contraposição às leis de censura em outros países.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Essa linha de argumentação parece visar um choque direto com a crescente regulamentação de plataformas, especialmente em países como o Brasil e na Europa.

O futuro da moderação de conteúdo na Meta agora parece estar mais em risco do que nunca, com a empresa adotando um modelo baseado na contribuição do próprio público e se distanciando de práticas institucionais de verificação de fatos, postura que o X, de Elon Musk, já adotou há algum tempo.

Muitos aliados de Trump, além do próprio, já criticaram a Meta por adicionar avisos ou alertas a postagens questionáveis ou falsas, sob o argumento de que a checagem de fatos era injusta com conservadores.

E desde a vitória de Trump na eleição norte-americana, a Meta vem tentando restabelecer os laços com o futuro presidente, que assume no próximo dia 20.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Com informações de O Globo.

Compartilhe:
Siga:
Jornalista, assessor de comunicação, escritor e comunicador, com MBA em jornalismo digital e 12 anos de experiência, tendo passado também por alguns veículos no setor tech.
Sair da versão mobile