O TikTok vai enfrentar a justiça francesa em Créteil, onde sete famílias deram início a uma ação judicial contra a plataforma. Representadas pela advogada Laure Boutron-Marmion, as famílias alegam que o TikTok contribuiu para a deterioração da saúde mental e física de seus filhos, adolescentes que foram expostos a conteúdos prejudiciais promovidos pelo algoritmo de recomendações personalizado da rede social.
Os demandantes apontam que o TikTok, ao sugerir vídeos relacionados a automutilação, transtornos alimentares e até suicídio, afetou diretamente o bem-estar de jovens usuários.
Em defesa da acusação, os pais relatam trajetórias de sete adolescentes franceses, dos quais dois tiraram a própria vida aos 15 anos.
Marie, uma das jovens que tirou a própria vida em 2021, motivou a sua família a abrir uma queixa inicial em setembro de 2023 contra o TikTok por “provocação ao suicídio”.
Laure Boutron-Marmion, especialista em defesa de menores, também representa a família de Marie nesse processo.
Algoritmo de recomendações do TikTok preocupa famílias e especialistas
O algoritmo do TikTok está no centro das acusações. As famílias alegam que a plataforma, ao basear suas sugestões de conteúdo no comportamento de navegação dos usuários, cria um “efeito toca de coelho”, no qual adolescentes que visualizam conteúdos de tristeza ou vulnerabilidade emocional passam a receber recomendações semelhantes.
Segundo os jovens afetados, as sugestões de vídeos envolvendo automutilação e suicídio se intensificaram após interações com conteúdos considerados “tristes” ou reflexivos, sugerindo que o algoritmo exacerbou condições psicológicas fragilizadas.
A advogada Boutron-Marmion fundou em 2024 o coletivo Algos Vítima, que busca responsabilizar redes sociais pelo impacto psicológico em jovens.
A intenção do coletivo é agir contra o potencial viciante do aplicativo e a falta de moderação de conteúdos relacionados a suicídio, automutilação e transtornos alimentares – explica a advogada.
Segundo ela, a ação judicial não é apenas uma tentativa de responsabilizar o TikTok, mas também de trazer atenção à necessidade de maior controle sobre algoritmos que têm influência sobre o comportamento de jovens.
No entanto, o tribunal de Créteil preferiu não comentar sobre o caso ao ser contatado pelo Le Monde, enquanto o TikTok ainda não respondeu às solicitações de esclarecimento sobre a ação.
O silêncio da rede social acontece apesar de seu envolvimento, em setembro, na criação de um programa conjunto com Meta e Snap para conter conteúdos de automutilação e suicídio.
Esse programa, chamado Thrive, visa colaborar entre plataformas para denunciar conteúdos prejudiciais, mas ainda é incerto o impacto prático da iniciativa.
Além disso, o TikTok já enfrenta outros processos por conta do impacto na vida de jovens.