Ataques no Líbano mostram técnicas de cibercrime a serviço da guerra

Por Cássio Gusson
Ataques no Líbano mostram técnicas de cibercrime. Foto: Dall-e

No dia 17 de setembro de 2024, o Líbano sofreu um ataque cibernético coordenado que resultou na detonação de centenas de pagers, aparelhos que vêm sendo usados pelo grupo Hezbollah como um meio de comunicação seguro e alternativo aos celulares.

A ação se deu simultaneamente em diversas regiões do país, incluindo a capital Beirute, o sul do país e o Vale do Bekaa, e deixou mais de 2.800 pessoas feridas e pelo menos 8 mortos. Entre os feridos estavam, em tese, combatentes do Hezbollah, mas também civis e até mesmo o embaixador do Irã no Líbano.

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Esses pagers, adquiridos pelo Hezbollah como forma de driblar o rastreamento que pode ser feito em telefones celulares, foram de alguma forma comprometidos, o que possibilitou que fossem detonados remotamente e de forma coordenada.

As evidências indicam que o ataque pode ter envolvido a infiltração na cadeia de suprimentos dos dispositivos e/ou a modificação do software de fábrica (firmware), de forma a permitir o controle remoto e a explosão sincronizada dos pagers, algo sem precedentes na história dos atos de inteligência e de guerra híbrida. Há suspeitas de que Israel esteja por trás da ação, embora o país ainda não tenha se pronunciado oficialmente sobre as acusações.

Vale ressaltar que, apesar de ter sido cometido por meios cibernéticos (eletrônicos), esse ataque teve efeitos cinéticos, atingindo os alvos no plano físico. Hoje, dia 18 de setembro, os ataques foram continuados, uma vez que novas explosões ocorreram durante o funeral organizado pelo grupo Hezbollah para os mortos do dia anterior. Dessa vez, dispositivos como walkie-talkies (rádios de comunicação), foram detonados em todo o sul do país e em Beirute, por volta das 11h30 do horário de Brasília.

Ataques no Líbano

De acordo com fontes sigilosas, estes aparelhos teriam sido adquiridos na mesma época dos pagers que explodiram na véspera. Uma agência de notícias libanesa reportou que, além dos rádios comunicadores, sistemas de energia solar e aparelhos de biometria também explodiram em Beirute. O ministério da Saúde daquele país informou que mais de 3 mil pessoas ficaram feridas, além das 9 mortes que foram confirmadas.

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Essa sequência de ataques foi notável pela sua precisão e pelo uso de tecnologia de guerra cibernética atrelada a efeitos cinéticos, levantando preocupações sérias sobre a vulnerabilidade de sistemas de comunicação em áreas de conflito e o crescente papel da tecnologia em ataques militares. A operação também abalou a confiança do Hezbollah em seus sistemas de comunicação, expondo fragilidades que podem ter implicações significativas no conflito com Israel.

“Foi uma ação sem precedentes: um ataque muito bem pensado, planejado com grande antecedência e estruturado para que fosse deflagrado no momento oportuno – inclusive com prosseguimento no dia seguinte, quando se sabia que os alvos estariam reunidos com outras pessoas em funerais”, analisa Fábio Diniz, Presidente do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC).

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Jornalista especializado em tecnologia, com atuação de mais de 10 anos no setor tech público e privado, tendo realizado a cobertura de diversos eventos, premiações a anúncios.
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