Um relatório divulgado nessa quarta-feira (23) pela SaferNet, organização não-governamental que atua na promoção dos direitos humanos na internet, revelou que 1,25 milhão de usuários do aplicativo de mensagens Telegram estão envolvidos em grupos ou canais que compartilham e vendem imagens de abuso sexual infantil e material pornográfico. Em uma dessas comunidades, que continua ativa, foram identificados 200 mil usuários.
O documento, intitulado “Como o Telegram tem sido usado no Brasil como um espaço de comércio virtual por criminosos sexuais”, foi entregue à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, à Polícia Federal e também para autoridades francesas, que investigam crimes cometidos na plataforma.
Recentemente, o presidente e fundador do Telegram, Pavel Durov, foi preso na França devido a uma dessas investigações. Ele responde em liberdade, mas está impedido de deixar o país.
O relatório analisou 874 links do Telegram denunciados à SaferNet por conterem imagens de abuso sexual infantil. Desses, 149 ainda estavam ativos, e outros 66 links contendo conteúdo criminoso foram descobertos.
Criminosos fazem transações com criptomoedas no Telegram, dificultando a identificação
Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil, explicou que esses grupos não apenas distribuem imagens de abuso sexual infantil, mas também realizam a venda desse material, muitas vezes produzido com o uso de inteligência artificial.
Além disso, a investigação revelou o uso de bots automatizados para gerar novas imagens a partir de fotos enviadas por usuários mediante pagamento via PIX ou criptomoedas, dificultando a identificação dos responsáveis.
Esses mecanismos de pagamento, segundo Tavares, violam normas do Banco Central e podem estar sendo usados para lavagem de dinheiro e financiamento de atividades criminosas.
A SaferNet pediu ao Ministério Público que oficie o Banco Central e outras autoridades para estudar as lacunas na regulação financeira que permitem esses tipos de transações.
O Telegram, que lidera o número de denúncias recebidas pela SaferNet desde 2021, tem sido alvo de críticas por falhar na remoção de conteúdo ilegal.
A SaferNet descreveu a empresa como tendo uma operação global obscura, com uma equipe pequena e insuficiente para lidar com a escala de sua plataforma.
Denúncias – Qualquer pessoa pode denunciar conteúdos envolvendo abuso sexual infantil à Central Nacional de Denúncias da SaferNet Brasil ou acionar o Disque 100 em casos de suspeita de violência contra crianças e adolescentes.
O Telegram também permite que os usuários reportem grupos ou mensagens criminosas por meio do e-mail abuse@telegram.org.