Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC) avançaram no desenvolvimento de geradores termoelétricos capazes de produzir energia a partir de pequenas diferenças de temperatura, um passo importante para viabilizar a criação de energia em Marte.
O sistema proposto usa geradores termoelétricos para alimentar um processo de conversão de dióxido de carbono (CO₂), presente em abundância na atmosfera marciana, transformando-o em produtos essenciais para a vida humana no planeta.
A inovação, que inicialmente se mostrou viável em testes laboratoriais, usa geradores termoelétricos que, mesmo sob variações modestas de temperatura, conseguem produzir eletricidade.
Em Marte, onde a atmosfera é composta de 95% de CO₂ e as temperaturas variam de 20 °C a -153 °C, esses dispositivos poderiam converter o gás em combustíveis e substâncias químicas que abasteceriam colônias futuras. Esse sistema se mostra promissor ao possibilitar o uso da diferença entre a temperatura interna de uma estrutura habitável e as temperaturas externas extremas de Marte.
O processo funciona pela geração de energia quando os geradores termoelétricos se conectam a superfícies com temperaturas diferentes. No laboratório, os pesquisadores testaram a tecnologia em uma configuração que usava uma placa quente e um banho de gelo.
O sistema obteve uma diferença de temperatura de ao menos 40 °C, suficiente para alimentar um eletrolisador capaz de converter CO₂ em monóxido de carbono (CO), um composto básico na produção de combustíveis e outros materiais. Esse método pode ser adaptado para Marte, onde biodomos manteriam o interior aquecido enquanto o exterior enfrenta o frio extremo, gerando energia continuamente.
Colonização em Marte
O Dr. Abhishek Soni, pesquisador da UBC e autor do estudo, destaca o potencial do sistema para apoiar a colonização marciana. Segundo ele, o ambiente extremo de Marte oferece uma oportunidade única para utilizar grandes variações de temperatura, permitindo tanto a geração de energia quanto a conversão de CO₂, essencial para abastecer uma colônia autossustentável. “Essa tecnologia pode transformar o CO₂ abundante na atmosfera de Marte em produtos que supririam uma colônia, como combustíveis e materiais plásticos,” explica Soni.
Professor Curtis P. Berlinguette, investigador principal da pesquisa, ressalta que a tecnologia representa uma alternativa sustentável e carbono-neutra, essencial para a criação de insumos no planeta vermelho. Ele também sugere que materiais como plásticos, necessários para diversas funções, podem ser produzidos localmente em Marte, usando o próprio CO₂ do ambiente.
O próximo passo dos pesquisadores envolve testes em condições reais aqui na Terra, para avaliar como o sistema termoelétrico e o eletrolisador operam fora do ambiente controlado do laboratório. Em paralelo, a equipe estuda como refinar a tecnologia para aplicações em instalações geotérmicas, onde a diferença de temperatura entre as profundezas da Terra e a superfície também pode gerar energia.