Brasileiros descobrem molécula que pode reverter o envelhecimento cerebral

Foto: Dall-e
  • Envelhecimento cerebral: molécula natural melhora desempenho cognitivo em camundongos idosos
  • Pesquisa foca no papel dos astrócitos e não dos neurônios
  • Hevina aumenta sinapses sem interferir nas placas beta-amiloides

Pesquisadores da UFRJ e da USP deram um passo promissor na luta contra o Alzheimer e o envelhecimento cerebral. Eles descobriram que a molécula hevina, produzida por astrócitos, pode reverter déficits cognitivos.

Os cientistas observaram que aumentar a produção dessa glicoproteína em roedores idosos elevou a conectividade entre os neurônios, o que resultou em melhor desempenho em testes de memória. O estudo foi publicado na revista Aging Cell com apoio do Ministério da Saúde, FAPERJ e FAPESP.

Assim, a hevina é secretada naturalmente por astrócitos, células que sustentam e regulam o sistema nervoso central. Quando estimulada, a proteína fortalece sinapses e melhora a comunicação entre os neurônios, explica Flávia Alcantara Gomes, da UFRJ.

De acordo com o estudo, os testes demonstraram que mesmo sem alterar as placas beta-amiloides — marca registrada do Alzheimer — a proteína restaurou funções cognitivas em animais doentes, o que levanta novas hipóteses sobre a origem da doença.

A equipe aplicou um vetor viral recombinante para aumentar a hevina em cérebros de roedores com Alzheimer e em camundongos envelhecidos. Em ambos os casos, os cientistas notaram melhora na cognição sem efeitos colaterais observáveis.

Envelhecimento cerebral

Imagem: scitechdaily

Além disso, uma análise do proteoma cerebral revelou que a hevina regula 89 proteínas relacionadas à formação de sinapses. Isso confirma que os astrócitos têm um papel ativo e essencial na manutenção da saúde cerebral, destaca Danilo Medinas, da USP.

Surpreendentemente, a pesquisa mostrou que o acúmulo de placas não impediu a recuperação cognitiva. Felipe Cabral-Miranda, primeiro autor do estudo, diz que “os resultados reforçam a ideia de que as placas não são a causa direta do Alzheimer”.

Embora ainda longe da aplicação clínica, a descoberta oferece uma nova perspectiva para o desenvolvimento de terapias mais eficazes. Os pesquisadores ainda precisam entender se a hevina pode atravessar a barreira hematoencefálica e funcionar em humanos.

A comunidade científica agora enxerga os astrócitos como potenciais alvos terapêuticos, ampliando a abordagem para além dos neurônios. O foco muda de combater apenas as placas para promover a saúde sináptica de forma mais ampla e natural.

O próximo desafio envolve desenvolver medicamentos que simulem o efeito da hevina e testá-los em humanos. Os pesquisadores seguem otimistas, reforçando que o futuro da neurociência pode estar mais próximo do que se imaginava.

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Jornalista especializado em tecnologia, com atuação de mais de 10 anos no setor tech público e privado, tendo realizado a cobertura de diversos eventos, premiações a anúncios.
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