Por muitos anos, circulou o boato de que uma taça de vinho diária poderia trazer benefícios à saúde. No entanto, uma pesquisa recente publicada na revista acadêmica de medicina JAMA Network derrubou essa crença. O estudo revelou que o consumo de álcool não traz vantagens para a saúde, e pode, na verdade, ser prejudicial.
Os cientistas das universidades de Victoria, no Canadá, e de Portsmouth, no Reino Unido, realizaram uma revisão abrangente de 107 estudos sobre o tema, analisando históricos clínicos de mais de 4,8 milhões de pessoas ao redor do mundo. A conclusão foi clara: não foram encontradas vantagens na saúde de quem consome álcool ocasionalmente ou em pequenas quantidades diárias em comparação aos abstêmios.
A pesquisa destacou que o consumo de até 23 gramas diárias de álcool, equivalente a duas taças de vinho ou duas latas de cerveja, já aumenta a taxa de mortalidade por doenças em relação aos que não bebem. Embora o aumento do risco de morte para quem bebe menos de 23 gramas diárias seja pequeno, variando entre 2% a 4%, o consumo acima desse nível traz consequências mais graves.
Especialmente preocupante é a situação daqueles que consomem mais de 65 gramas de álcool regularmente, ou seja, seis latas de cerveja ou uma garrafa inteira de vinho. Para pessoas com menos de 56 anos, as chances de morrer precocemente aumentam em 38% em comparação aos abstêmios.
Saúde
O impacto do álcool é ainda mais severo para as mulheres. Enquanto os homens só enfrentam um risco de morte precoce superior a 30% quando consomem mais de 65 gramas de álcool, as mulheres atingem essa taxa com 45 gramas. Para aquelas que chegam ao nível de consumo extremamente alto, o risco de morrer precocemente salta para 61%.
Tim Stockwell, do Instituto Canadense de Investigação sobre o Uso de Substâncias da Universidade de Victoria, explica que muitos estudos anteriores falharam ao não considerar o consumo de álcool ao longo da vida. Eles compararam consumidores moderados com grupos que incluem pessoas que pararam de beber devido a problemas de saúde, distorcendo os resultados.
“Isso faz com que as pessoas que continuaram a beber pareçam muito mais saudáveis”, disse Stockwell.
A pesquisa de Stockwell e seus colegas revelou que, quando os dados são analisados corretamente, o consumo moderado de álcool não está associado a uma vida mais longa. Pelo contrário, aumenta as chances de desenvolver doenças como câncer. “Não existe um nível de consumo de álcool totalmente seguro”, frisou o cientista.