A “Teoria do Macaco Chapado” propõe uma hipótese intrigante: a evolução humana pode ter sido impulsionada pelo consumo de cogumelos alucinógenos pelos nossos ancestrais primatas. Segundo essa teoria, a substância psilocibina, presente nesses cogumelos, teria acelerado o desenvolvimento cerebral desses macacos, levando-os a um salto evolutivo significativo.
O psiquiatra Charles Grob, da Universidade da Califórnia, menciona no documentário “Fungos Fantásticos” (2019), disponível na Netflix, a longa relação das culturas indígenas com a medicina vegetal. Ele sugere que essa conexão ancestral pode indicar que a “Teoria do Macaco Chapado” não é tão absurda. Para Grob, é totalmente plausível que nossos ancestrais tenham encontrado e consumido cogumelos que alteram a consciência.
O neurocientista Stevens Rehen, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Instituto D’Or, afirma que essa teoria nos faz refletir sobre diversos aspectos da evolução humana.
Em entrevista ao site Viva Bem, Rehen explica que a ativação de receptores de serotonina e outros neurotransmissores pelos psicodélicos poderia ter melhorado a neuroplasticidade – a capacidade do cérebro de aprender e se reprogramar. Ele sugere que o consumo coletivo de cogumelos pode ter estimulado a socialização e expandido as capacidades cognitivas dos nossos ancestrais.
Dennis McKenna, irmão de Terence McKenna, questiona como o cérebro humano triplicou de tamanho em apenas dois milhões de anos. Para ele, os psicodélicos consumidos pelos primatas atuaram como um software que programou nosso hardware neurológico, proporcionando um impulso evolutivo significativo. Esta visão é apresentada no documentário “Fungos Fantásticos”.
Evolução humana
A teoria também encontra respaldo no embriologista Eduardo Sequerra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele sugere que mudanças morfológicas rápidas na evolução não são surpreendentes e que um gatilho ambiental, como os cogumelos psicodélicos, poderia ter acelerado o desenvolvimento cerebral de uma linhagem específica. Sequerra explica que, após muitas gerações recebendo esse estímulo, a linhagem incorporou esse caminho de desenvolvimento.
Michael Pollan, jornalista e escritor de Nova York, menciona a “Teoria do Macaco Chapado” em seu livro “Como Mudar Sua Mente”. Pollan cita Paul Stamets, um defensor fervoroso dos cogumelos psicodélicos, que acredita na alta probabilidade de a hipótese ser verdadeira. Stamets argumenta que a psilocibina amplia as conexões neurais entre áreas do cérebro, explicando as experiências analíticas e criativas sob seu efeito.
Dráulio de Araújo, neurocientista da UFRN, acrescenta que os psicodélicos podem fazer o cérebro trabalhar de forma mais livre, gerando experiências criativas semelhantes às de uma criança. No entanto, ele ressalta que, do ponto de vista cerebral, ainda não há dados suficientes para comprovar a teoria.
Nos últimos anos, houve avanços tecnológicos no estudo dos psicodélicos, mas testar a “Teoria do Macaco Chapado” continua sendo um desafio. Stevens Rehen menciona a possibilidade de estudar os efeitos transgeracionais dos psicodélicos em modelos animais e também trabalha com minicérebros humanos cultivados em laboratório para investigar os efeitos dessas substâncias.
Enquanto isso, a “Teoria do Macaco Chapado” continua a intrigar cientistas e entusiastas, misturando ciência, especulação e uma boa dose de psicodelia. Será que a evolução humana teve uma ajudinha dos cogumelos mágicos? Só o tempo e mais pesquisas poderão dizer. Até lá, podemos imaginar nossos ancestrais pré-históricos em uma “viagem” rumo à civilização.