No último dia 19, o senador Ben Cardin, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, tornou-se alvo de uma fraude utilizando tecnologia de deepfake.
Cardin recebeu um e-mail que parecia ser de Dmytro Kuleba, ex-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, solicitando uma reunião via Zoom.
Durante a chamada, o senador percebeu algo estranho. Embora o indivíduo do outro lado da tela parecesse e soasse como Kuleba, suas ações e perguntas começaram a levantar suspeitas.
O impostor fez diversas perguntas a Cardin, incluindo algumas relacionadas à política externa dos EUA, como o apoio ao uso de mísseis de longo alcance contra a Rússia.
A insistência em temas sensíveis, associada a um comportamento anormal, levou Cardin a desconfiar da autenticidade da conversa.
De acordo com um e-mail de alerta do Senado, o senador relatou o incidente ao Departamento de Estado, que confirmou que a pessoa na chamada não era o verdadeiro Kuleba, mas um impostor.
Crescimento das ameaças com deepfake
Este incidente, revelado pelo The New York Times, reflete o crescente uso de deepfakes em fraudes e manipulações políticas.
A tecnologia, que utiliza inteligência artificial para criar vídeos extremamente realistas, vem sendo empregada por atores maliciosos em diversas áreas, desde campanhas de desinformação até fraudes mais sofisticadas, como esta que envolveu o senador Cardin.
As autoridades do Senado alertaram outros legisladores sobre o risco de novos golpes semelhantes, recomendando cautela com convites e interações online que possam parecer suspeitas.
Embora ataques de engenharia social não sejam novos, o uso de deepfakes adiciona uma camada de sofisticação que torna esses golpes ainda mais convincentes.
O escritório de segurança do Senado observou que, nos últimos meses, o aumento no uso dessas táticas reflete um avanço nas ameaças cibernéticas, especialmente em torno de figuras públicas e temas politicamente sensíveis.
Além do caso de Cardin, outros exemplos de deepfakes têm chamado atenção nos EUA.
Em maio, a Comissão Federal de Comunicações propôs multas milionárias a um consultor político por uma campanha que envolvia robocalls falsos em nome do presidente Joe Biden, visando manipular eleitores em New Hampshire.
O próprio Elon Musk compartilhou um vídeo deepfake envolvendo a vice-presidente Kamala Harris, enquanto o ex-presidente Donald Trump utilizou IA para postar um suposto “endosso” de Taylor Swift, em uma clara tentativa de manipular o público – não muito tempo depois disso, a artista declarou apoio a Kamala, o que levou Trump a dizer que a odeia.
Com as ferramentas de IA cada vez mais acessíveis e a qualidade dos deepfakes aumentando, as autoridades e o público precisam estar mais atentos a essa nova forma de desinformação.
Ao mesmo tempo, é necessário que as próprias tecnologias, assim como as Big Techs, desenvolvam salvaguardas para evitar este tipo de manipulação.